O Mercador de Aventino
Esta é a história de Elíus, um jovem romano que perdeu tudo duas vezes tentando enriquecer rapidamente, e sua busca por conselhos junto a Caio Domício, um liberto que construiu sua fortuna através de métodos simples e disciplinados. Ambientada na Roma Antiga, a narrativa revela princípios atemporais de educação financeira através de um diálogo entre mentor e aprendiz.
O sol do meio-dia queimava as pedras da Via Ápia quando Elíus parou diante dos portões da vila de Caio Domício. Suas sandálias gastas denunciavam as léguas percorridas; a túnica, remendada mas limpa, mostrava um homem que ainda guardava dignidade apesar da pobreza.
Três anos antes, herdara uma pequena oficina de cerâmica do pai. Em seis meses, perdera tudo apostando em especulações com trigo siciliano. Depois, tentara o comércio de óleo com os gauleses - fracassara novamente. Agora, aos vinte e cinco anos, restava-lhe apenas a fama de jovem azarado e as histórias que contavam sobre Caio Domício, o liberto que enriquecera tanto quanto qualquer patrício.
— Busco audiência com o senhor Caio — disse ao porteiro, um númida de braços cruzados.
— Ele não recebe pedintes.
— Não venho pedir sestércios. Venho pedir conselhos.
O porteiro riu, mas algo no tom sério de Elíus o fez hesitar. Desapareceu entre as colunas de mármore.
Caio Domício surgiu minutos depois. Baixo, magro, com mãos calejadas que contrastavam com o anel de ouro no dedo. Não era belo, mas havia algo nos seus olhos que impunha respeito - a tranquilidade de quem conhecia o valor das coisas.
— Mais um jovem em busca de segredos — murmurou, estudando Elíus. — Sempre imaginam que há fórmulas mágicas para enriquecer.
— Não, senhor. Vim porque perdi tudo duas vezes. E porque dizem que o senhor conhece as razões pelas quais alguns homens prosperam e outros não.
Caio o observou em silêncio. Algo na postura de Elíus - nem suplicante nem arrogante - despertou sua curiosidade.
— Então aceita vinho aguado? É o que bebo durante o trabalho.
— Aceito.
Sentaram-se sob um toldo de linho, longe do sol. Caio serviu o vinho numa taça simples de barro.
— Conta-me sobre teus fracassos. Sem mentiras.
Elíus relatou a especulação com o trigo, a pressa em lucrar rápido, a decisão de apostar tudo numa única safra. Depois, a tentativa desesperada com o óleo gaulês, novamente investindo recursos que não possuía.
— E o que fazias enquanto esperavas os lucros?
— Esperava — admitiu Elíus, corado. — Acreditava que o dinheiro trabalharia sozinho.
— Ah. — Caio bebeu um gole. — Conheces a história do meu primeiro negócio?
— Não, senhor.
— Comprei uma carroça velha e passei dois anos transportando ânforas entre o porto e os mercados. Dois anos carregando peso nas costas, dormindo pouco, comendo mal. Sabes quanto guardei desses dois anos?
— Não.
— Quase nada. Gastava tudo. Achava que merecia viver bem depois de trabalhar tanto. — Caio sorriu amargamente. — Só quando vi um grego velho, que transportava a metade do que eu, comprando uma segunda carroça, entendi o que fazia errado.
— O que fazia?
— Ele guardava parte do que ganhava. Sempre. Mesmo quando mal tinha para comer. Chamava isso de "plantar moedas". Dizia que quem não plantava, nunca colhia.
Elíus franziu o cenho.
— Mas como plantar quando se tem pouco?
— Começa pequeno. Muito pequeno. O grego guardava uma moeda em cada dez que recebia. Eu ria dele. Dizia que estava desperdiçando a vida. Mas em dois anos, ele tinha dinheiro para comprar a segunda carroça. Em cinco, possuía uma pequena frota.
— E o senhor?
— Continuei gastando tudo. Até que um dia, carregando ânforas sob o sol, pensei: "Este grego me deu uma lição de graça. Vou segui-la ou continuar sendo burro?"
Caio se levantou, caminhando até uma janela que dava para os jardins internos.
— Demorei um ano para conseguir guardar a primeira moeda. Um ano inteiro. Porque é difícil mudar hábitos. Mas quando guardei a segunda, a terceira, algo mudou dentro de mim. Comecei a ver o dinheiro diferente.
— Como assim?
— Antes, as moedas eram para gastar. Depois, entendi que algumas moedas eram para trabalhar. Como escravos, mas que me pagavam em vez de me custar.
Elíus inclinou-se para frente.
— Escravos que pagam?
— Empresto dinheiro a juros justos. Compro pequenas participações em oficinas. Financio caravanas. Cada sestércio que emprego me traz de volta um e meio, dois, às vezes três. Lentamente. Mas sempre.
— E se o devedor não pagar?
— Acontece. Por isso nunca empresto tudo a uma só pessoa. Nunca invisto tudo numa só coisa. Se perco aqui, ganho ali. Se perco ali, ganho acolá.
O silêncio se estendeu. Elíus observava as mãos calejadas de Caio.
— Mas como organiza isso? Como sabe quanto guardar, quanto investir?
Caio sorriu, como se esperasse essa pergunta.
— Aprendi um método com um mercador fenício. Simples como contar nos dedos. — Levantou a mão direita. — De cada dez moedas que recebo, uma fica comigo. Sempre. Mesmo que coma pão seco no jantar.
— E as outras nove?
— Duas vão para investimentos ou para quitar dívidas. Financio uma carroça, compro parte de uma oficina, empresto a juros. Ou uso para me livrar de dívidas que me consomem.
— E as sete restantes?
— Vivo com elas. Como, visto-me, pago o aluguel, compro óleo para a lamparina. Tudo. Parece pouco, mas é suficiente quando se tem disciplina.
— E funciona?
— Funciona se não trapaças contigo mesmo. A primeira moeda guardada é sempre a mais difícil. A segunda também. Mas depois de um tempo, torna-se natural como respirar.
— Quantos anos levou para enriquecer?
— Quinze. Quinze anos guardando, investindo, perdendo, recomeçando. Não há pressa que valha, rapaz. Pressa é inimiga da riqueza.
— E como viveu esses quinze anos?
— Com as sete moedas de cada dez. Comida simples, roupas simples, casa simples. Só aumentei meus gastos quando minha renda aumentou. E mesmo assim, devagar.
Caio voltou a sentar-se.
— Sabes qual é a diferença entre um homem rico e um homem pobre?
— Não.
— O pobre trabalha pelo dinheiro. O rico faz o dinheiro trabalhar por ele. Mas para chegar lá, primeiro precisa ser pobre que guarda. Depois, pobre que investe. Só então, rico que vive bem.
Elíus baixou os olhos.
— Temo fracassar de novo.
— Vais fracassar. Todos falhamos. Eu perdi dinheiro muitas vezes. A diferença é que quando se tem reservas, um fracasso não te destrói. Te ensina.
O sol começava a declinar. Caio se levantou.
— Preciso voltar aos meus negócios. Mas deixa-me dizer uma coisa: não vim buscar minha fortuna. Construí-a, moeda por moeda, dia por dia. Se queres mudar tua sorte, muda primeiro teus hábitos. Pequenos. Diários. Sem pressa.
Elíus também se levantou.
— Obrigado, senhor. Sei que não posso pagar este conselho.
— Já pagaste. Com tua honestidade. Poucos admitem os próprios erros.
Quando Elíus atravessou novamente os portões, não levava moedas. Mas carregava algo que não possuía desde a morte do pai: um plano. Não grandioso, não rápido, mas sólido como as pedras da Via Ápia.
Três anos depois, encontraria Caio no mercado. Não mais como suplicante, mas como pequeno comerciante que havia aprendido a guardar antes de gastar, a investir antes de sonhar. E Caio, vendo-o aproximar-se com uma túnica simples mas nova, sorriria discretamente.
Algumas lições, pensaria, realmente valiam a pena ser ensinadas.